A década passada foi uma década bem peculiar. Se eu precisasse escolher uma entre as várias mudanças de mentalidade que tivemos na última década, eu diria que o mundo ficou mais ecológico. Podemos ter nos tornado mais isolados pela tecnologia, liberais ou politizados, mas estas mudanças são reversíveis. Entretanto, a consciência "verde" veio para ficar. Isto porque ela não é apenas uma ideia ou conceito, mas também está se consolidando no nível técnico sob o nome de transição energética.
E todo mundo, até certo ponto, está animado com a transição energética. Mesmo quem duvida do aquecimento global (conheço alguns) se anima com tecnologias mais limpas como painéis solares, turbinas eólicas, carros (ou até navios cargueiros) elétricos.
E não é só uma questão de sentimento ou de esperanças futuras; empresas tradicionais de O&G estão mudando seu core bussiness ou mudando o "óleo" e o "gás" do nome por “energia”. O caso mais emblemático é o da Equinor, antiga Statoil, mas há várias outras [i]
Além do branding, a transição energética mexeu com o mundo do petróleo de outra forma. Receosos de ver seus ativos empacados no subsolo num futuro renovável, países com forte produção de óleo e gás aceleraram a produção, focando em vender o máximo de reservas possíveis enquanto há tempo.
Segundo Mark Gordon, diretor de investimento da Ascent Oil Fund, por conta desta corrida contra o tempo, hoje nós vivemos uma era de abundância e de preços baixos, apesar da gasolina custar 5 reais (o preço do petróleo nos últimos 20 anos está abaixo). Entretanto, ele também afirma que o preço deve voltar a subir [ii]. Sim, a gasolina tem boas chances de subir!
A ideia é simples: a economia é cíclica. Preços baixos tiram do jogo companhias menos competitivas. Com menos competidores, os preços aumentam. Preços altos estimulam novos empreendimentos. Novos empreendimentos criam novas competidores. Novos competidores aumentam a oferta, diminuem o preço e o ciclo recomeça.
Como nos últimos 5 anos este afã abaixou o preço dos combustíveis, os investimentos em novos projetos de petróleo despencaram desde 2014. Gordon afirma que, a partir de 2021, a oferta de petróleo diminuirá pela falta de novos projetos. Isso também foi visto, em parte, no fracasso do leilão dos blocos do Pré-sal ano passado.
Quem deve se dar bem na brincadeira é quem investiu quando ninguém investia, entre outros, o Brasil com o Pré-sal. Entretanto, não sei se a Petrobrás sairá vitoriosa nesta história. A crise dos caminhoneiros mostrou que não é a empresa que controla seus preços. Pode ser que um aumento de preços internacionais leve o governo a congelar os preços nacionais para aliviar o bolso da população e deixe a empresa no vermelho.
Outro vencedor deve ser a transição energética. Nada como uma gasolina mais cara para se investir em pesquisas em energias renováveis. Se lembra que antes do Pré-sal falávamos do bio diesel? Estas tecnologias ganham mais recursos e espaço com petróleo caro.
Cena para os próximos capítulos. Que venha a nova década.
Referências